17.4.06

Uma foto para o Danilo

Ou a lua perdeu o sorriso,
ou eu tenho andado muito triste...


Claus Nardes

14.4.06

Poema Publicitário

Nunca comeu carne
Não usou drogas, nem ouviu rock n’ roll
Não fez sexo demasiadamente
Nunca mentiu
Nunca traiu
Nunca atravessou com o sinal fechado
Foi bom com todos o cães abandonados
Não sentava em banco “ainda quente de outra pessoa”
Só cagava em sua privada
Jamais comeu em fast-food
Não soube o gosto dos congelados e dos embutidos
Era anti-antibióticos
Dormia de oito a nove horas por noite
Sempre usou filtro solar
Nuca assistiu filmes pornográficos
Nem mesmo se masturbou
Guardou os domingos
Fez catecismo e sempre ia à missa
Foi coroinha do padre
Na sua infância, se quer notou as calcinhas da Xuxa
Chorou muito quando seu irmão mais velho
colocou dois soldados do Comandos em Ação
em posições comprometedoras
Tinha medo da AIDS
Por isso, esfolou a língua
esfregando-a com sabão e escovinha de lavar jeans,
após receber um beijo acidental de sua vizinha
Morria de ódio de fumantes
Morria de ódio dos bêbados
Mas era extremamente capitalista !
Morreu de forma violenta
atropelado por caminhão de lixo,
quando correu para o meio da rua
apanhar uma moeda
de cinco centavos!

Claus Nardes

Admirável novo homem

Eu sou transgênico, sou ecumênico
Sou belicista, arrogante, imperialista
Sou transeunte, divino, materialista
Mamute congelado que uma sonda achou em marte
Sou clone de uma mosca africana
Na boca da criança sul-americana

Eu sou Spock
Eu sou Andróide
Todos os meus órgãos
Foram geneticamente alterados
Vivo feliz com um coração de porco
E um cérebro de lhama
(Não é assim que se faz fama?)

Sei de cor meu código genético
Mas eu quero mais, eu quero o estético
Eu vi a múmia de Lênin
Eu vejo a múmia Yankee
Vamos todos viajar nas estrelas
nas esteiras do seu tanque


O pensamento é único
É tão comum
Eu sou o homem
Do século 21


Sou mito, sou mentira
Um religioso ateu, um cientista fariseu
Sou nasa, sou Hussain
Sou o mal, mas sei ser o bem

Sou robótica, biotecnologia
Sou micro, macro, encéfaloparalisia
Minha sujeira você comerá
Mas antes, vamos exportar guaraná

Sou barão, gergelim, imperador
Eu sou a cura para qualquer tipo de dor
Eu sou o fim do bom, talvez o fim do amor
Sou o sexo seguro do seu televisor
O out-door que diz: use, caixinha de isopor!
Meu maná já foi inseto
Meu microondas, proletário
Posso ser esse novo-rico precário
Ou um evangélico e seu relicário

Quem sabe um patuá budista
Na verdade, sou uma modelo bundista
Que veste uma roupa que já foi vaca
...E pensar, que tantas foram vacas
Só por suas roupas!

Viva a cara do menino sujo de carvão
Viva a língua, viva o palavrão
Amém avião, amem ilusão
Enquanto bombas, se desfazem pelo chão

Digo, dane-se o dna
Pois minha letargia
É só minha,
Como minha onírica poesia


O pensamento é único
O senso é comum
E eu ainda sou
O homem do século 21

Claus Nardes



2.4.06

Meus caminhos

Eu ando pelas ruas
esbarrando em velhos fantasmas.
Como não os conheço
digo olá, e sigo sem rumo

Uns me pedem atenção
outros, um trocado
Se algum deles me pedisse uma poesia
oh deus, o que eu faria?

Claus Nardes