21.12.06

Licor e Blues para Simone

Nosso licor ainda tem gosto
Nosso blues ainda tem rosto
E o dia 4 amanhece todos os dias
E todos os dias
Eu quero amanhecer-te

Como é bom embriagar-me em ti
Em sabores de amor e licor
Em gestos simples que imitam a flor
No cabelo noturno me desencontro
Sem bússola ou mapa
És a única estrela para a qual aponto
Me embriague
Me deixe perdido
Me deixe tonto
Mas não me deixe blue

Claus Nardes

Reflexão

O que é você sem seu espelho?
De noite...
O melhor momento
Para se
Refletir

O dia passou
Somar-se e subtrair-se
Trai-se e
Traz-se
De rosto lavado
Refletindo de forma mais clara

O dia de hoje
É uma coisa
Quase rara
A vida é quase errada!

Claus Nardes



Vivemos de Se...

S’eu pudesse me refazer por um segundo
Em qualquer canto, em qualquer rumo
Juro que diria
Foda-se todo o mundo!

Claus Nardes

Tudo ao seu tempo

Um dia

Todos irão acordar

O sono vai

O sol vem

Um dia

Cada um levantará por si só

O sono vai

O sol virá

Não mais noites eternas

Desses mesmos pesadelos incognoscíveis

Basta das noites

Onde os gritos são mais torturantes

Que os próprios monstros errantes

Mas por enquanto, tudo ao seu tempo!

Mesmo ele sendo lento...

Claus Nardes

Oração de natal


D’outro lado da calçada

Ásperos motores fatais

Ásperos desejos carnais

Ásperos prazeres atuais

Ásperos apelos materiais

Ásperos anjos de cristais

Ásperas luzes de natais

Ásperas esperas

De Jesuses especiais

Texto e foto: Claus Nardes

24.9.06

3 acordes para a vida

A vida é uma valsa?
Leve, pra lá e pra cá
Tranqüila e sonolenta

A vida é um tango?
Sedutora, marcante e trágica
Com pegadas fortes e lábios vermelhos

Não!
A vida é um bom e velho punk rock
Curta, crua e com três acordes

Claus Nardes

Relógio Moderno

Para aqueles que me dizem: nada adianta!
Digo:
" Por favor, não me atrasem!"


Claus Nardes

30.7.06

Esquinas Modernas

A moça da esquina vendia flores
Grossos lábios carminados
Simpática, anunciava os valores
Um rapaz se aproximou


Levou
Um bouquet
Para a sua noiva
Claus Nardes

Anúncio

Comprei um roteiro
Um livro de auto-ajuda
Seja feliz
Fique de bem com o espelho
Perca a barriga
Ganhe mais dinheiro
Seja dono do seu negócio
Aprenda a cantar em três lições
Faça ligações interurbanas pagando local
Seja super feliz comendo de tudo
Compre este livro
Assine esta revista
Aceitamos todos os cartões
(inclusive o seu)
Sua tv está velha?
Ligue pra mim, vai! Estou te esperando, humm!
Dê de presente para a sua mãe
Parcele em 24 vezes, no nosso crediário
Beba
Se beber não dirija
Se dirigir, use o nosso combustível
Passe horas de prazer no nosso motel
O melhor disco do ano, sucesso de crítica e de público
O mais vendido
O único, com uma série de vantagens
Converse com os nossos gerentes

Tenho dó do diabo
Pois, já não sobra mais nada para ele!



Claus Nardes

Que seja

Que seja outro dia
Que seja outra hora
Que seja outro
Que seja outro tempo
Que seja outra pessoa
Que seja de outra forma
De outra maneira
Que seja o que se deseja
Que veja de outra forma
Que seja agora
Sem cansar de ser o mesmo
Sem cansar de ser o outro
Que seja assim
Que assim seja

Claus Nardes

30.6.06

Uma Montagem para Fernanda (ou O Andar)

Ah, essa eterna ternura
Esse andar por entre as flores despercebidas da ruptura
As variantes das avenidas que só nós, fantasmas
Temos coragem de caminhar
Onde o passo delicado do sonho
Encontra a brutalidade sórdida de neocavalos reais
Lacrimejamos perante a força dos animais
Mas sempre nos salvamos
(Guardadores de Rebanhos)

Chamam de fantasmas
os que caminham pelas avenidas de sonhos,
os que sentem dor,
os que não dormem mais,
os inquietos
Chamam de fantasmas,
os que estão realmente vivos e se recusaram a morrer

O sonho é popular
O andar é delicado e não é só

Claus Nardes

Suco de laranja

Que escândalo ver te
Tomando suco de laranja
De olhos escuros até para a noite
Que me lembraram, em um só instante
Eros e sua mãe fascinante


Claus Nardes

O homem que anda em silêncio
Mede cada passo nas pedras do caminho
Com ares que beiram o flauto
É como se fosse pensativo este sozinho

Quebrou o asfalto com seu andar
E das lágrimas deixou brotar
Uma contra-mão invertida
Na curva, de saída só para caminhões


Claus Nardes

Curto

Ma che mao há em ser fiel?

31.5.06

Sem saber

E continuo sem saber
Se as luzes são do final da tarde
Ou do começo da noite

Claus Nardes

Quem não chove?

Eu abro o meu guarda-chuva
E algumas lágrimas desabam
Meu rosto molha
Meus pés encharcam

Escorrego pelas luzes vigilantes
Mas os bueiros já estão atentos
Não deixam qu’eu me afogue antes
Não antes, de um dos seus alentos

Claus Nardes

21.5.06

Uma música para André

Caminhando contra o vento
Mas a favor da brisa
Poc...
Poc...
Curvado de causas nobres
Envergado de sonhos
Poc...
Poc...
Refutando todos os cobres
Vencendo moinhos medonhos
De forma forte diz: “São as causas perdidas que movimentam o Homem.”

Claus Nardes

11.5.06

?

Desisto muito fácil...................................................................................................
........................................
.

.........
..
...


Claus

17.4.06

Uma foto para o Danilo

Ou a lua perdeu o sorriso,
ou eu tenho andado muito triste...


Claus Nardes

14.4.06

Poema Publicitário

Nunca comeu carne
Não usou drogas, nem ouviu rock n’ roll
Não fez sexo demasiadamente
Nunca mentiu
Nunca traiu
Nunca atravessou com o sinal fechado
Foi bom com todos o cães abandonados
Não sentava em banco “ainda quente de outra pessoa”
Só cagava em sua privada
Jamais comeu em fast-food
Não soube o gosto dos congelados e dos embutidos
Era anti-antibióticos
Dormia de oito a nove horas por noite
Sempre usou filtro solar
Nuca assistiu filmes pornográficos
Nem mesmo se masturbou
Guardou os domingos
Fez catecismo e sempre ia à missa
Foi coroinha do padre
Na sua infância, se quer notou as calcinhas da Xuxa
Chorou muito quando seu irmão mais velho
colocou dois soldados do Comandos em Ação
em posições comprometedoras
Tinha medo da AIDS
Por isso, esfolou a língua
esfregando-a com sabão e escovinha de lavar jeans,
após receber um beijo acidental de sua vizinha
Morria de ódio de fumantes
Morria de ódio dos bêbados
Mas era extremamente capitalista !
Morreu de forma violenta
atropelado por caminhão de lixo,
quando correu para o meio da rua
apanhar uma moeda
de cinco centavos!

Claus Nardes

Admirável novo homem

Eu sou transgênico, sou ecumênico
Sou belicista, arrogante, imperialista
Sou transeunte, divino, materialista
Mamute congelado que uma sonda achou em marte
Sou clone de uma mosca africana
Na boca da criança sul-americana

Eu sou Spock
Eu sou Andróide
Todos os meus órgãos
Foram geneticamente alterados
Vivo feliz com um coração de porco
E um cérebro de lhama
(Não é assim que se faz fama?)

Sei de cor meu código genético
Mas eu quero mais, eu quero o estético
Eu vi a múmia de Lênin
Eu vejo a múmia Yankee
Vamos todos viajar nas estrelas
nas esteiras do seu tanque


O pensamento é único
É tão comum
Eu sou o homem
Do século 21


Sou mito, sou mentira
Um religioso ateu, um cientista fariseu
Sou nasa, sou Hussain
Sou o mal, mas sei ser o bem

Sou robótica, biotecnologia
Sou micro, macro, encéfaloparalisia
Minha sujeira você comerá
Mas antes, vamos exportar guaraná

Sou barão, gergelim, imperador
Eu sou a cura para qualquer tipo de dor
Eu sou o fim do bom, talvez o fim do amor
Sou o sexo seguro do seu televisor
O out-door que diz: use, caixinha de isopor!
Meu maná já foi inseto
Meu microondas, proletário
Posso ser esse novo-rico precário
Ou um evangélico e seu relicário

Quem sabe um patuá budista
Na verdade, sou uma modelo bundista
Que veste uma roupa que já foi vaca
...E pensar, que tantas foram vacas
Só por suas roupas!

Viva a cara do menino sujo de carvão
Viva a língua, viva o palavrão
Amém avião, amem ilusão
Enquanto bombas, se desfazem pelo chão

Digo, dane-se o dna
Pois minha letargia
É só minha,
Como minha onírica poesia


O pensamento é único
O senso é comum
E eu ainda sou
O homem do século 21

Claus Nardes



2.4.06

Meus caminhos

Eu ando pelas ruas
esbarrando em velhos fantasmas.
Como não os conheço
digo olá, e sigo sem rumo

Uns me pedem atenção
outros, um trocado
Se algum deles me pedisse uma poesia
oh deus, o que eu faria?

Claus Nardes

14.1.06

São Tomé

A imagem te movimenta
se não há imagem
nada, lhe atormenta!

Pra quê descrever?
Pra quê imaginar?
Eles preferem as miragens
e tudo aquilo que se define em cores
e invade seus olhos famintos

A imagem movimenta o mundo
e o mundo não se movimenta sem ela
Nós até tentamos, mas somo tentados!

10.1.06

Observe

Vê?
Observas?
Olha como andam apressadas as pessoas
Rascunhos patéticos que vagueiam
Quase sem tempo
Quase sem tato
Quase sem jeito
de serem pessoas

Observe, só observe
Mas não pense no amanhã!

Claus Nardes

Não ria da minha rima do rio

Os pezinhos brancos da menina
enrugaram-se na água cristalina
E os peixinhos, se soubessem escrever
com certeza, fariam melhor rima

Claus Nardes

Ver o quê?

Se meus olhos
estivessem abertos,
eu veria tantas coisas
Mas como sou sonhador...
aí já viu né?

Claus Nardes

Respondendo Ferik

A minha cidade não tem mais que
40 mil habitantes
alguns vereadores e um recinto
algumas lojas e um super mercado
4 locadoras (de filmes comerciais)
nenhuma casa noturna (bares fecham antes de 00:00)
1 pista de caminhada em volta de um lago feio
1 lan house
E muitos carros populares
A minha cidade tem 5 escolas estaduais
Nenhuma faculdade particular
Nenhuma faculdade pública
Nenhuma livraria
Nenhum sebo...
A minha cidade só tem uma biblioteca, jogada às traças...


Claus Nardes